No Brasil, são produzidas anualmente mais de um milhão de toneladas de embalagem de vidro, segundo a Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro). Desse montante, 47% vão para reciclagem. "Comparando com outros países, esse número é bom. O maior índice é da Suíça, que recicla 95% do que produz", destaca Stefan Jacques David, consultor de reciclagem da entidade. No entanto, para que o Brasil alcance o país europeu, ainda é preciso juntar muitos cacos.
A maior concentração de países com altos índices de reciclagem do vidro está na Europa. Para David, essa é uma questão de educação ambiental "e de consciência das benesses da prática de reciclagem." Outro fator apontado pelo consultor é a questão política. "Se tivéssemos uma legislação brasileira que regularizasse a reciclagem, poderíamos aumentar esse percentual. Devemos levar em conta que outras nações têm legislação e preocupação ambiental", pontua.
O reuso do vidro na fabricação de novas embalagens movimenta uma indústria expressiva no Brasil e fortalece os três pilares da sustentabilidade: o econômico, o ambiental e o social.
De acordo com a Abividro, o ciclo da reciclagem de vidro já é muito rentável para a indústria, que chega a economizar até 12% em água e energia. Na fabricação de embalagens , o caco pode diminuir em até 95% a quantidade de insumos para a fabricação do vidro. Outras vantagens da reciclagem são: a menor emissão de gás carbônico (CO 2 ) na atmosfera pelas fábricas e a ampliação da vida útil dos aterros sanitários.
"O caco de vidro é um item que ajuda a economizar bastante na fabricação de embalagens ", afirma Wagner Sabatini, chefe de desenvolvimento de reciclagem da Saint-Gobain Embalagens . A multinacional produz em território brasileiro 300 toneladas de produto acabado por dia, dos quais 80% vão para o segmento de bebidas. Sabatini orgulha-se em dizer que, em média, 50% da fabricação da Saint-Gobain é feita com caco de vidro, o que gera à companhia uma economia de energia e água de até 12%.
A Abividro estima que no ano passado 9% das embalagens de vidro consumidas ficaram retidas nas casas dos consumidores finais. "Essa porcentagem representa as embalagens descartáveis que não são usadas de forma inteligente, como os potes de geléia", exemplifica o consultor de reciclagem da entidade. Mas esse não e o maior problema enfrentado pela indústria do vidro.
“Atualmente, a entidade e toda a cadeia lutam para conter o mercado informal, que usa 24% das embalagens de vidro indevidamente na falsificação de destilados e bebidas em geral, perfumes e outras formas ilegais. A long neck , por exemplo, tem sido muito usada para envase de tubaínas e sucos de caju no nordeste. Ela foi feita para ser descartável, é reciclagem one way . Também temos casos dessas embalagens sendo usadas para envase de cachaça", denuncia David.
"O Brasil é um bom reciclador do vidro, mas precisa cuidar do reuso indevido das embalagens ", alerta Wagner Sabatini. "Estamos sempre orientando sobre a falsificação de bebidas e perfumes".
Um outro problema em pauta na indústria do vidro é a falta de material para reciclagem. "Nossa indústria está engajada na questão da reciclagem porque sabe que muitas pessoas vivem de recolher esse material", garante o representante da Abividro. "Hoje temos falta de matéria-prima", sentencia Wagner Sabatini da Saint-Gobain . "Desde janeiro de 2009 registramos uma queda de 12% no recebimento de cacos".
Para reverter o quadro negativo de captação do reciclável, empresas e entidades ligadas ao setor estão incentivando cooperativas e catadores por meio de campanhas. Para se reciclar o vidro não é preciso equipamento especial. Basta quebrar a embalagem em cacos separados nas cores âmbar, verde ou branco e formar o que se chama de "bolo". O vidro não pode estar misturado a outros materiais como alumínio, cerâmica, pedra etc. O "bolo" separado é enviado para a usina de composição na forma de matéria-prima para a indústria vidreira.
Como se vê, o desafio é fazer as pessoas descartarem o vidro corretamente e retorná-lo à cadeia.
Fonte: Pack, nº. 142, junho de 2009
José Eduardo Tavares